domingo, 17 de fevereiro de 2013

Prazos



Se até quinta ele telefonar, é porque ainda me ama. Se não ligar, acabou mesmo. 

Se o sinal continuar aberto até eu passar com o carro, é porque vale a pena ir até a casa dele. Se fechar antes, melhor não ir. 

Preciso chegar até a esquina em apenas dez passos. Senão, o dia não vai ser bom pra mim.

Até meia-noite tem que entrar um e-mail dela. Se entrar, é a mulher da minha vida.

Du-vi-do que você não estipule prazos para o imponderável. Para ser franca, não sei se os homens se prestam a este joguinho de azar, mas as mulheres sei que, silenciosamente, a ele se dedicam quase como se fosse uma religião. Eu não fujo à regra. É uma maneira de brincar com o destino, de fingir que podemos delegar nossas mais sérias decisões. Se eu encontrar lugar para estacionar, não vai chover no final de semana. Se o telefone tocar antes das cinco da tarde, trará uma boa notícia. Se a blusa custar menos que R$100, é com ela que vou na festa. Se até seis tocar minha música preferida, todas as minhas dúvidas irão pro espaço!! Ah, se a vida funcionasse desse modo, quanta simplicidade.

Mas a gente dá dez passos e não alcança a esquina, o sinal fecha antes que o nosso carro consiga atravessá-lo, o e-mail dela não chega antes das doze badaladas... e ainda assim a vida vale a pena. Vale a pena justamente porque nada pode ser entregue a presságios: temos que decidir nossas vidas sozinhos, a ação cabe a nós, e se ela nos ama ou não, e se a promoção virá ou não, nenhuma música tocada no rádio acabará com a angústia, melhor ir lá e perguntar.

Tudo bem, mas... se ela estiver com aquele vestido preto, é porque vai rolar. Se o Santos ganhar a partida, a grana que eu tô esperando vai entrar na conta. Se as flores não murcharem até sábado, é porque ele ainda está a fim. Não funciona, mas diverte.


Texto  da  maravilhosa Martha  Medeiros

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